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sábado, 5 de dezembro de 2009

Sonho e Realidade

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Este sonho aconteceu do dia 23/11/09 para o dia 24/11/09
...
Eu estou num ônibus com alguem que me faz compania. O caminho me lembra o Jardim Botânico_ caminho no qual passei quase dois anos indo para s.b.c. Na Metodista-.
De repente passamos num condomínio de prédios e vejo um homem atirado num canteiro florido.
Esse homem eu nunca conheci pessoalmente, mas sei o nome dele e de vez em quando leio seu blog.
Ele está caído e existem pessoas em volta. Ele se jogou. Ele se matou.
Mais adiante vejo uma moça desesperada se jogando no chão. Ela chora muito, ela sofre, a dor dela é comovente. É o retrato da tristeza profunda e da inconformidade. Penso: deve ser a mina do cara que se matou. O onibus dá a volta e já existe uma novena, com velas e muitas pessoas. Parece que ele é um cara cheio de amigos. A maioria é mulher. Existem poucos homens. Os únicos homens que me lembro são os homens que estão ao lado do corpo no canteiro florido. O canteiro é redondo.
Eu , de repente, entro dentro do condomínio e já assisto a cena do corpo estirado duma janela alta. Parece que estou em um apartamento. Ouço comentários de que essa já não é a primeira vez que o cara tenta se matar.Dizem algumas pessoas. Eu apenas ouço. Passam horas e o corpo permanece lá.
Existem outras duas moças que choram compulsivamente como a primeira. Me parece que ele tinha outras mulheres além daquela primeira.
Um dos amigos, um gordinho, sai correndo e pela primeira vez, deixa o cara sozinho e estirado. Ficam uns amigos envolta ainda, mas o gordinho parece ser o mais fiel e dedicado.
O corpo está duro, pelo menos é o comentário que eu ouço das pessoas. Afinal já se passaram muitas horas. O amigo gordinho volta. Num repente ele coloca o corpo de pé .O amigo parece meio revoltado e quando levanta o corpo do defunto , mostra uma atitude desesperada de salvá-lo . E salva. O corpo é colocado de pé , e mesmo meio torto , apoiado numa perna só, não cai. O cara não morreu. Ele está vivo. O gordinho aplica no pescoço do ex-morto uma injeção verde. Como se fosse adrenalina, ou qualquer coisa do tipo que o fizesse viver de novo.E parece que funciona.
Meio torto, meio manco e se arrastando sai o cara. A primeira mina_ a que mais se descabelva chorando _ o abraça e sai com ele. Ele apóia seu corpo sobre o dela e eles se vão, juntos.


...

Hoje, como todos os dias, entre no site de notícias "G1" da Globo, para acompanhar as informações do dia.
O homem do sonho foi baleado numa tentativa de assalto no espaço "Parlapatões". Seu estado é grave.
...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Estou envelhecendo

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Passei tanta coisa, passei tanto de mim e passei tanto do ponto. Deste, daquele, do meu, da vida.Do ponto que eu deveria descer pra caminhar um pouco mais.
Não existem atividades literárias pra quem não ama mais segurar num lápis. Pra quem abandonou um caderno de cinco anos e se apaixonou pela vista deslumbrante de um computador. Nele posso ver o mundo. Nele cabe todo o mundo, toda a minha paz. Nele cabemos.
Que piada!
Lí um texto tão bonito, que me tocou tanto. Era sobre como os nãos que dizemos ao longo da vida custam um único sim que pode ser dito.
Pois bem, lá vou eu.
Dentro de mim, no mais íntimo, estão todas as palavras ansiosas por nascer e fazer morrer. Ansiosas para não frutificar – no sentido puro da poesia :esfacelar-, loucas pelo próximo tiro e pela próxima lágrima.
Ontem me nasceram tantas palavras e me neguei a ouví-las. “Sai de mim, poema sempre dito.”
Pensei : Maldito seja esse dia. E continuei.
Com quaantas palavras pode um poeta inteligente contar uma mesma história( sem que se mude uma só vírgula )?
Muitas.
Com quantas palavras pode um negligente contar uma mesma história ( sem que se mude uma só vírgula )?
Com nenhuma. O negligente apenas ignora tudo.

sábado, 29 de agosto de 2009

Caminhada

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Fumo desde os 17 anos e este hábito terrível fez com que eu criasse espaços de tempo para fumar em qualquer lugar.
Trabalho num shopping e ainda me resta uma área para fumar. Vou sempre ao mesmo lugar. Lá penso sobre a minha vida, meu presente, passado e futuro. À penas, penso.Construo o mosaico do existir com um cigarro entre os dedos,uma fumaça sobre a cabeça.E hoje não foi diferente, saí pra fumar.
Acendí meu cigarro, dei o primeiro trago e comecei a observar o fluxo de pessoas que vão e vem à minha frente, numa das entradas do shopping.
Um homem passa falando ao celular apressadamente, na mesma mão que o segura tem um chaveiro entrelaçado nos dedos. Um homem que corre à vida num compasso orgulhoso e prepotente. Logo atrás um menino de no máximo dois anos. Ele corre em seus pequenos passos para alcançá-lo. O menino usa sandálias amarelas, bermuda preta e uma camiseta com os dizeres : “nasci pra vencer''.
O homem a passos largos não se importa em olhar pra trás. O menino, obstinado, não se importa em buscá-lo numa corrida impossível para suas pequeninas pernas.
Vejo este homem percorrer mais ou menos vinte metros até que meus olhos não o alcancem mais. O menino é a última figura que vejo fazendo a curva , e desaparecem. Do meu olhar. Me questiono...que tenacidade é esse que move uma criança a perseguir o pai durante incansáveis minutos, sem sequer receber um olhar, um gesto para que continuasse? Que pai é esse que não olha pra trás e se compadece do esforço sobrenatural que seu bebê fazia para alcançá-lo?
Quantas vezes já corri atras de alguém que não me esperou ?Que não se compadeceu em perceber que a minha capacidade só chegava aos passos curtos? Quantas vezes já vesti a camiseta com a frase “nasci pra vencer'' em batalhas perdidas desde o primeiro passo?
E ainda mais, quando foi que tive essa determinação de ir em frente diante do desprezo e do abandono? E quantas vezes não diminuí o ritmo pra – numa atitude apaixonada e generosa- oferecer ajuda a quem se arrastava poucos metros atrás?


quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Tudo Novo de Novo

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Uma expectativa nascida de dois pares de olhos. Projetadas num só. Eyes with lasers. É, foi mais ou menos assim.
Pois bem, estacionei em frente ao seu prédio e esperei você descer. Esse foi o dia que fizemos um mês ficando -pra mim-, e 'ficando' pra você. Do alto dos seus 1,70- pouca coisa maior que eu- vi um homem de paletó preto, calça jeans e tênis cinza. Nas mãos dele, um buquê de flores.
Pensei : Ineditismo e Deus.Caí,só que nos teus braços. Uns vinte olhares e meios sorrisos deram as mãos aos muitos selinhos e saímos pra nossa noite pagã. Como todas as outras.Onde os fracos não tem vez. Sorrimos sempre dessa piadinha nascida num motel barato ao estilo estadunidense.Que não se compreenda tudo. Fomos jantar. Eu, ele e as flores no banco de trás. De certo que elas deveriam estar fazendo comentários sobre nós. Isso não é devaneio.
Sempre me sinto deslocada com muita chiqueza e dessa vez não foi diferente. Um garçom ao pé da mesa, mais propriamente enchendo o meu prato todas as vezes que ele esvaziava. O garçom queria namorar com a gente. Asseyes vouz, garçon.Brincadeira. Na verdade era um escravo pago pra trabalhar de madrugada nesses empregos desleais. Provavelmente tinha raiva de estar ali. A mulher o esperava em casa e servir a um jovem casal deveria ser pedante.
Não me senti muito a vontade naquele lugar, embora a comida fosse ótima. O problema era só o serviço demasiado prestativo do garçon. Vou me ater a nós. Nós.Agora nascemos no plural.
No carro um abraço. No carro umas palavrinhas tímidas, que juntas, formaram isso que chamamos de frase e, nesse caso, pedido de namoro (ou intimação) : A partir de agora você é minha namorada.
Minha cabeça voou nas asas de um pássaro perdido, depois voltou, cambaleante : Eu quero, achei que você não fosse pedir! O desespero eufórico era , de fato, puro desespero. Eu sei do quê. Por quê pensou que eu não fosse pedir?, disse ele.Eu respondi algo muito inseguro e ele replicou: Pra mim a gente já tava namorando a muito tempo. Ufaaaaaaa. Ele quer isso de verdade, eu percebí. Então vamos.
Sendo ele o filho não nascido, mas escarrado o Chico Buarque – coisa que ele não suporta-, falou como o tal, dias à frente sobre Construção.Mas não era aquela letra famosa. O discurso soava como comida caseira, sabe? Parece ridículo dizer isso, mas era como se eu sentisse uma segurança duradoura, daquelas que só existem em almoços de domingo com a mesa cheia. ''Eu quero construir sonhos e buscar obejtivos em comum . Eu sei que com você vale a pena.'' Pôrra, que mulher não sonha com isso? Há quanto tempo eu espero por isso? Bom, é muito provável que eu esteja no caminho certo. Caso contrário, é mais um dos atraentes precipícios que beirei na vida.
O que eu sei de tudo isso é que tem muito a ver com o que eu sempre quis.O nós é muito presente nele e isso me cativa. O cuidado me cativa, a calma também. Conto os dias pra vê-lo novamente, numa espécie de '' fecundação de amor'' e que em breve, me engravidará.


Ele me encontrou/Eu tava por aí/Num estado emocional tão ruim/Me sentindo muito mal./Perdido, sozinho/Errando de bar em bar/Procurando não achar/Ele demonstrou tanto prazer/De estar em minha companhia/Que eu experimentei/Uma sensação/Que até então não conhecia/De se querer bem/De se querer quem se tem/E Ele me faz tão bem!/Que eu também quero/Fazer isto por ele...

Pra você, barba

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Dimanche Toujours

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Numa rua de nome composto
Metade religiosa
Metade utensílio doméstico
Um frio que não assustava, uma lua que brilhava
Nossos cigarros, nossos goles
Tudo nascia num sorriso e terminava num olhar

Timidez, medo, insegurança
Será? Será?
Mas já ? Mas já ?
Desejo de fuga
de fugir de você
me esconder em você
pra não te perder

Um filme sobre um contador de histórias
cocovants, cigarretes, Febem, filhos, Amor, M I L A G R E S
umas lágrimas minhas, um abraço de consolo seu
Seus m&m's, minha pipoca salgada
Nosso refrigerante

A despedida
o possível táxi
seu cuidado absurdo que me constrange
os seus beijos
um beijo meu mandado a distancia

uma semana esmagadora
lenta, irreversível
até que a vida presenteie a gente de novo
e comemoraremos
o que eu ganhei
e que você ainda não sabe

Legítimo.
Assim como foi pra você
foi pra mim.
O cheiro fica e me visita até que você reapareça.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Num acidente de sexta-feira...

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O poeta se conta em suas medíocres palavras ensaiadas. Não há nada de novo em sua poesia. Apenas cacos. Retratos diminutos duma paisagem sobreposta à própria vida.
O poeta volta a sorrir e abandona o próprio verso. Quantas palavras já escritas sem amor, que não possuem mais a circunstância da própria existência? Muitas.
O poeta saiu desapercebido dos acidentes que a vida tráz pra salvá-lo, não é assim que você o ensinou ?
O poeta se despede de si numa sexta-feira. O poeta encontra uns olhos tão iguais numa noite. O poeta decide, sua hora chegou.
A poesia nos ensina tudo sobre sentimentos. Assim o poeta aprendeu. No entanto, a efemeridade da letras e suas significâncias se perdem numa noite. Num sábado depois da sexta.
O mundo reviu o sorriso do poeta. Dizem que o poeta foi abençoado. Que assim seja. Que o sofrer seja minimamente impresso em suas letras de novo.
E o poeta ouve Nina Simone, ele lançou sobre você um encanto. O mesmo encanto que Nina lançou na vida dele.

Agora você é dele.

I put a spell on you because you're mine.

terça-feira, 26 de maio de 2009

As Horas

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Ele tinha sempre uma mania de falar das horas:

"São duas da tarde e ainda não fiz isso." "São oito da noite e não comprei aquilo. "
O tempo dele era aquele conjunto de fragmentos fomentados por um ponteiro arbitrário.Desleal.

E se tornava escravo de cada gominho perdido e deixado pra trás. Pra ele o comando das horas ficava à cabo do cuco. Talvez fosse um beija-flor, talvez um joão de barro. Eu garanto que deveria ser um desses passaros de países nórdicos...ou talvez um bicho de estimação de lord inglês, tamanha frieza e pontualidade.
A ele se faziam presentes os avisos do pássaro. O bicho era em resina e mesclava um azul com verde dando um tom metálico a ave. De fato a beleza era grande e a compania que o bicho de mentira fazia também.

Para que não se perdesse no tempo empunhava um relógio de tamanho médio e cor discreta. Deveriam ser neutros o tom, os números e os ponteiros. A exigência com a qual o pequeno aparelho levava a vida dele era exímia.
De passo em passo se ouvia o tic-tac possessivo do acessório. De passo em passo se corria em frequencias cerebrais uma agitação e uma excitação. :“Estou em cima da hora” E mais substantivos que se complementavam num prelúdio de caos emocional:” Reunião. Chefe. Fome. Tensão.”

E mais um dia se passava e àquela pressão toda se esvaia num copo de café-com-leite assistindo o último desenho animado de sua série preferida “O máscara”.
Não tinha um perfil sensível, tampouco parecia infantil. Aquele era um traço que ficara de não se sabe da onde.

Cuco-Cuco-Cuco (!!!!!!!!!!)_

Não, não deveria ver desenhos. Era uma perda de tempo inexorável, coisa desnecessária de gente que não tem o que fazer.Melhor mesmo era pensar no seu discurso de amanha. Uma banca de executivos, uma gravata chumbo apertada e os dedos do pé uns sobre os outros. Ele demonstrava sua tensão espremendo os dedos do pé. Não que o sapato fosse apertado. O problema ia além. Ele era orgulhoso demais pra suar ou ficar ruborizado.

Dormiu uma noite tranquila até. Novamente o regulador o acorda. Ele desperta, desajeitado e sem vontade. No rosto a expressão é vazia, é como se o verbo “anular” tivesse rosto.O rosto era dele. Um homem anulado, um homem coisificado, controlado por um sistema que media sua própria vida num ciclo matemático falho.

Passos arrastados. Neste dia não há prelúdio de nada. Nada que lembre o homem nele. Ele apenas se veste, um zumbisnessman, ou melhor, um 'sobrevivo'.

Anda pelas ruas apressado. O contato com outros seres-humanos é escasso, desgastado. Existem pra ele a garçonete da lanchonete, sua secretária, a mãe insuportável e distante e um motorista de taxi . Motorista este que o leva quando seu comandante preso ao pulso demonstra algum atraso irreparável de mínimas fatias de tempo. Quiçá sete, oito minutos.

E à morte ele é tão desinteressante. Ela jamais o espreitou...”um homem como ele, desprezível, não é merecedor de qualquer acontecimento sobrenatural”.

A reunião vai as tantas. O relógio utilizou todos os seu espaço de tempo naquele dia. O ponteiro saiu cansado de trabalhar e governá-lo.

O acessório empunhado estava enfraquecendo e talvez fosse só a bateria.
O homem não percebeu e como de praxe, esperou que o Cuco garantisse seu despertar e que o marcador de pulso confirmasse a hora.
O cuco gritou, cucou, ardeu em cólera e o homem permanecia estático em decúbito dorsal. Já era a prévia de um laudo de morte. Como num sono de bêbado ele levantou uma das pestanas – ensaiava um abrir de olhos- e visualizou o mostrador do relógio. Inda marcavam 4 horas a mais de sono.Dormiu.

Cuco- Cuco- Cuco (!!!!!!!!!!!!!!!!!)

Algumas horas depois- se dirigiu até o santuário que governava sua vida, Cuco azul- esverdeado- metálico, meio lord, seu controlador. Havia algo de errado. Os ponteiros do relógio de pulso estavam incoerentes. O sol ardia e os ponteiros marcavam inda 3:00 a.m.
Não foi o cuco que o traira. A bateria do relógio de pulso havia acabado e ele não se apercebeu. No homem nasceu um sentimento. Era uma raiva de si mesmo. Ele caíra do pedestal egoísta que se colocara.

Se irritou, esbravejou, lançou o relógio da mão esquerda ao chão. Uma cena maravilhosa de se ver. Algo no homem o fazia humano, mesmo que fosse uma revolta ridícula como aquela.

Já havia perdido o horário do trabalho. O café acabara em sua casa. Decidiu sair pra comprar. Não tirou as meias tampouco penteou o cabelo. Remelas, baba, cabelos bagunçados, um furo na meia. Sentou-se na praça florida em frente à sua casa – que jamais fora antes- abriu a tampa do café. Bebeu. O relógio ficara no chão da sala e o sol não marcava as horas. O sol – ele percebeu- marcava dias. Permaneceu ali como quem jamais iria embora. Talvez não fosse.

Ele e outros homens - Zé

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Contando histórias eu conto minha vida, meus desejos, meus pequenos ratos que corroem a alma.


Marina é o nome da mulher que eu mais amei. E como amei Marina. Amava tanto e era só olhar pra ela que o mundo se acendia como em dia primeiro do ano. Fogos, estouros e faíscas. Um amor de bichos iguais. Um amor de bichos gêmeos.
Com Marina não tinha tempo ruim, cama ruim, sorriso ruim, festa ruim. Ela se alegrava por mim, eu me alegrava por ela.Bastava.

Penso em Marina como quem pensa em sonhos. Sonhos são aquilo que as vezes amaríamos viver, noutras odiamos tanto que o melhor é esquecer.
A menina me fazia presente em tudo. Me ligava um botão de vida que nem eu sei aonde é que fica. A menina me ensinou o valor do companheirismo e nisso nunca ninguém ganhou dela. Era minha companheira. Em tudo.

Hoje as bandas são outras. Marina voltou pra minas, e a cachaça não muda o sabor da vida. Não mudou nunca- apenas era ilusão de tempo, velhice, teor-, a cachaça é apenas necessária.

Necessário é acordar e escrever sobre feridas. Sobre como tenho feridas que são tão minhas e não dependem de ninguém. Nem de Marina, nem da cachaça.

E mesmo que a pinga não me ficasse como arrimo. E mesmo que Marina se casasse com outro homem.
Mesmo assim eu ainda teria um cenho franzido e uma vida pouco viviva. Pouco aproveitada.
O sabor com o qual eu convivo hoje é o mesmo que tem as velhas raízes no deserto.

Pó, secura, aridez.... talhos que ultrapassaram o limite do sangue. O limite da vida.

E essa procura que em mim se instalou não tem outro nome senão o meu.
A doçura com a qual Marina me olhava, morará em mim enquanto ainda for possível a condição do ser. Do estar.
E a cachaça desce doída, como desce macia. Depende do dia, do diabo.

Deus já não se ocupa dos perdidos.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Formiguinhas

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A música postada abaixo me veio na cabeça hoje de manhã. As primeiras horas do dia são sempre reveladoras... são prelúdio de acontecimentos e sentimentos.

Sinto falta, as vezes, duma época demasiada espiritual pela qual eu passei na adolescência. Este período me deu muita coisa boa e continua dando.

Me sinto muito agradecida por Deus por todas as coisas que eu tenho. Me sinto privilegiada por estar viva.

Em verdade, é uma benção diária poder contemplar a natureza e toda a criação de Deus.


Ontem eu e o Gô estávamos passeando no parque quando nos deparamos com uma, das tantas, manifestações de Deus nas nossas vidas...

Um caminho de formiguinhas !


Sim, elas estavam em fileira levando pedacinhos de folhas e flores para o formigueiro.

Nós ficamos as admirando durante bastante tempo. Elas tinham uma organização absurda, a união então nem se fala. Foi uma das cenas mais bonitas que já vimos juntos.

Algumas formiguinhas levavam pedaços gigantes de folha, se comparados ao seu tamanho. Outras, no entanto, levavam pedaços pequeninos demais. Era uma 'comunidade' muito unida, uma célula. Cada qual na sua função, se o pedacinho caía, elas não desistiam. Equilibravam com as patinhas o fragmento de folha, e levavam até o seu esconderijo.


As minhas palavras não vão expressar nunca tamanha beleza; Por isso, aconselho você que olhe menos pra cima, pelo menos de vez em quando. Abaixar a cabeça faz com que possamos enxergar milagres, entender a nossa vida.


Tenho ganho maravilhosos presentes de aniversário, isso me deixa imensamente feliz. Mas, os melhores, sem dúvida foram os que se levam pra vida toda, como o milagre da vida impresso nas formiguinhas.


Aprendemos a voar como pássaros. Aprendemos a nadar como peixes.

Mas não aprendemos a conviver como irmãos.” Martin Luther King Jr


Nem toda tecnologia jamais fez nascer uma formiguinha. O sopro de vida, a existência só é dada por Deus.


p.s.: Não, não voltei pra igreja...tampouco pretendo. Este lado espiritual é muito presente em mim e não o reprimo.


A música abaixo é muito animada... tem um ritmo ótimo e me passa força e espiritualidade.








Cântico de Moisés- Giovani Santos


Então cantou Moisés

E os filhos de Israel ao Senhor

Pelo que o Senhor já fez na terra de Faraó

Porque o nosso Deus gloriosamente triunfou

E fez o mar se abrir

E Israel passou


É este o meu Deus

É Ele o Deus de meu Pai

Por isso exaltarei Seu nome, é Senhor


Cada gota do mar entendeu

Que a frente do povo hebreu

Ia o grande varão de guerra, o Deus de já.

Cavalheiros de Faraó

Afundaram-se no mar

Mar Vermelho a pés enxutos pude atravessar


Pois o Senhor é a minha força

E o meu cântico,

Ele me foi por salvação

Quem é como Tu

Glorificado em Santidade


Admirável, entre os louvores de Israel

Cantai ao Senhor

Cantai ao Senhor

Porque triunfou, gloriosamente

Deus de maravilhas

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A palavra

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- Linda.

A palavra veio tão espontânea e carinhosa que ela de pronto, disse:

-Lindo.

Não eram os olhos que viam
Ali os corações se enxergavam.

Era um laço profundo que parece jamais desatar.
Eles tem sorte e não, não sabem - ainda.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Ele e outros homens - Jorge

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Jorge não sabia muito bem como se esquivar das motos e dos retrovisores dos carros. O mulato vendia balas no farol desde que se conhecera por gente. Passara mais da metade de sua vida ali. A outra metade passava relembrando tudo o que vivia lá.
Filho de mãe solteira, sem pai conhecido, dividia as agruras e a comida com mais sete irmãos. Pra Jorge não era triste a vida. O triste era não ser amigo dela.
A rotina do rapaz era simples. Acordava antes do nascer-do-sol, colocava seu uniforme de trabalho ( uma peruca e um macacão com bolas vermelhas, amarelas e verdes), lavava o rosto, escovava os dentes e rompia a manhã com toda esperança de quem nasceu pra viver. Duramente vivia Jorge. Café-da-manhã, almoço, jantar, isso era raridade. Ou uma ou outra. Ele não se lembrava de um dia em que fizera mais de uma refeição.

O Palhaço

O macacão, presente de Dona Dinda, madrinha de Jorge, era companheiro do rapaz há perder de vista. Se bem, não era bonito. Era puído, uma manga tinha metade do comprimento da outra, e as cores... bem, as cores não se podia dizer " Nossa como vibram",no entanto apagavam o amarelo pálido do fundo e isto já e o bastante.
Trabalhar no farol é tarefa dura. Jorge bem o sabe. Mas menino como ele, criado e não-assumido pela vida aprendeu a se virar. O negro raquítico, de sorriso largo e de dentes brancos que envergonham a amarelice do macacão, é sabido da dureza. O crioulo foi moldado na miséria. Pra gente sofrida desde o começo, como Jorge, qualquer fim já é um ganho.

Os carros

No início da vida adulta ele era um alfabetizado-funcional. Ele escreve seu nome, lê e é muito ágil na hora do trôco, na hora do pagamento. O farol abre.

VERMELHO: O palhaço invade o mar de aço. As geringonças metálicas são assustadoras, mas ele não se intimida. A língua presa não o ajuda e ele faz por onde : 10 bala de caramelo a 1 real. Jorge não sabe, mas circula entre os prismas da evolução, da ganância, da modernidade. Saquinho de balas no retrôvisor. Madame vestida de carro francês olha e repugna o crioulo. E também tem o japonês, um negro como o nosso Jorge, e outros dentro dos carros parecidos comigo e com você. Somos reflectivos.
"Ô palhaço, ô muleque, quanto é que tá mesmo ?"
"É dez bala por um real só, moço."
" Vê dois saquinhos que as meninas tão pedindo."
As meninas são filhas de Jeremias, motorista de ônibus, que conseguiu realizar seu grande sonho: um carro popular em suaves prestações. Como se diz na ralé à perder de vista. Dentro do carro estão Pâmela e Luana, filhas do mais novo cliente de Jorge.
Por um momento o palhaço Jorge olha as meninas e se perde ao olhar Pâmela. A menina inda bem menina, quiçá tivesse doze anos, era grande demais pra própria idade. Era escura, de olhos amendoados e tinha um sorriso que atravessou aquele farol e a vida do vendedor de balas.

AMARELO : Jorge jamais fora amado, acarinhado. Sim, era esperançoso, mas não tinha incentivo da vida pra continuar nela. Sua criação em rua, em farol de avenida não lhe dera malícia. Malícia essa de homem, de macho. Muito pelo contrário, o descaso das circunstancias criaram nele uma alma inocente que o fizera permanecer um menino até o seu último dia.
Pâmela fitou Jorge com a mesma inocência que ele a observou. Se perderam por ali, naqueles milésimos de segundos, e a vida ganhou sentido pra Jorge e a mulher nasceu em Pâmela.
"Pega seu trôco aí neguinho." E menino não se movia. Talvez tivesse parado o mundo.Pra Jorge o sinal realmente parára.

VERDE: "Qual é o seu problema, hein garoto?"
Um ballet começava a se criar e a os sacos de balas dos outros carros partiam. Todas as balas dançariam longe daquele lugar. Não sabia nem Jorge, nem a menina o que se acontece numa hora dessas. De tão forte que era o laço nascido, o fio os levára numa forma superior. A forma mais pequenina que engradece.
Jeremias acelerou, o palhaço de feliz que estava, enfureceu-se. Jorge batia no vidro, Jeremias acelerava, as meninas gritavam e o transitou não parou. O mundo não parou. Numa arrancada mais forte o pai da menina conseguiu perder o vendedor de balas de vista. Suspirou, reclamou à menina, criticou-a, se encheu de soberba.

As bolas do macacão

O mesmo garoto de sempre. Um corpo franzino, daqueles que pedem socorro a cada toque. O palhaço só queria sorrir, vender, comer, dormir. O palhaço aquele dia amou. Um lago quente e vermelho se formava envolta dele. Desesperado, só chorava e esperava que alguém o livrasse daquilo. Num minuto ele tinha um mundo á mão, noutro já tinha muito menos que aquela vida maldita. Ele tinha fé em uma santa e rezou pra ela. Aquela oração martelava a cabeça dele todas as noites. Melhor fora recorrer a virgem. O macacão já se mesclava num tom róseo, medonho. Uns gritos surgiam em meio ao caos do palhaço rodeando a poça de sangue quente, muito quente , que ele derramára alí.
As bolas amarelas e as verdes, se perderam, se misturaram, como os olhares do palhaço e da filha do motorista. Nunca mais eles seriam os mesmos. Ele então talvez nem o 'mesmo' ainda poderia ser. O caso curioso que me pois a escrever é sobre o que viera a acontecer com as bolas vermelhas.

Bolas Vermelhas

Como que numa centelha de vida, num sopro irônico de deus pro menino, o macacão ganhara uma face bela diante da desgraça. Não mais se via verde, amarelo, desbotado, puído. O negro vestiu-se de raiz africana- talvez o único momento da vida em que tinha legitimidade- e a roupa de palhaço era manto, vestidura em cor de guerra.
Não demorou muito e pela sangria desatada, o menino palhaço morreu. Nunca em toda a cidade, os terreiros tocaram seus tambores tão altos. Dizem desde então que naquele dia nasceu São Jorge, homem santo, forte guerreiro.


* Meu agradecimento à Rubem Fonseca que me inspirou a criar este e outros contos que virão. Tomei como ideia seu livro "Ela e outras mulheres". Vale a pena .

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Carta ao Amante

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Bem sabes o quanto te desejo
o fogo com que me incendeias todas as vezes que nos sentimos,
nos embrenhamos
Mato a dentro .
a d e n t r o ( onomatopéia de sussurro erótico)
em toda tua natureza mortal
e teu 'faz-me-gemer' v i s c e r a l.

Nos encontramos às escuras,
não é bom que ele -àquele- saiba de ti,-num sussurro- de nós.
Vibro com a vitalidade de quando me penetras
Perfeito ao ponto de dividir linha e pensamento
alma e desejo.
E me concebes
do mesmíssimo modo como me consomes.

Voou no delírio mais infinito a buscar-te
E te recorro.
Quanto mais unidos,
juntíssimos: que o mundo se acabe em navalhas pingando sangue.
Sabemos, eu e você, do nosso gosto pérfido e sádico
em chupar cada gota de sangue alheio.

( onomatopéia orgástica)
E o nosso também, por que não ?

Agarro teus cabelos e cavalgo sobre ti na nossa breve madrugada.
Tu bens sabes o que sinto, jamais precisei de mais que 'verbo-sujeito-e-complemento' para que me soubesses.

( onomatopéia da suspresa da vida)
Mas eis-que longe vem, e eu bem sei o quê
e tu já não vale mais que um maço de cigarros. Vazio.
Te rejeito, te despeço, fecho meu canal.
JÁ não me p e n e t r a m a i s .

Meu Amante, Verso Meu
eu te digo nunca mais.


( onomatopéia referente ao barulho das lágrimas)




segunda-feira, 13 de abril de 2009

Oração de Páscoa

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Eu quero agradecer

Obrigada pelos momentos que estás comigo e eu não percebo, no entanto bem sei que não me abandonas.
Obrigada pelo cuidado com que olhas a minha vida, com que a diriges.
Obrigada por me fazer seu instrumento, por ainda lembrar de mim.
Obrigada pelo Dom que me destes, pela inteligência, pela saúde e pela capacidade -ainda que falha- de amar as suas criações.
Obrigada por falar comigo ainda que seja dentro desse coração tão ruim e falho.
Obrigada pela proteção, pela lealdade, pela fidelidade que ainda tratas a nossa relação.
Obrigada por ter me escolhido, por jamais ter me abandonado, por me abençoar todos os dias.
Obrigada pela comida, pela família, pelas oportunidades e pelas pessoas que colocas em minha vida.
Obrigada até por toda a dor que já sofri diante dos teus olhos... você sabe porque a permitiu. Ela me faz crescer, sempre.
Obrigada por estar ainda em mim e por me fazer brilhar.
Obrigada pelo amor Pai.
Obrigada pela minha vida.
Obrigada por me fazer forte e por me levantar todas as vezes que eu caio.
Obrigada por mostrar sua glória e beleza diante de mim.
Eu te amo muito Pai.
Esteja sempre dirigindo minha vida, meus caminhos.
E me perdoando também por ser tão imperfeita diante de Ti.

Aba, Aba

sabor anis tem Tua alma.

*Minha oração de Páscoa, inda que tardia.

sábado, 11 de abril de 2009

O vento que sopra naquele lugar

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O lugar
O lugar estava lá
O mesmíssimo lugar
Não mudara em nada
Desde a última olhada
O lugar tinha seu cheiro
O lugar tinha seus desejos
E os consumou por ali mesmo.
Pro lugar não importavam os números
estatísticas q u a n t i t a t i v a s
Importava mesmo era o bafo quente
Do cheiro das vítimas.
Em numeral, talvez fossem menos que 10.
Sim, sim. Bem menos que 10.
Mas quem habita lá é a gramática.
Nada interessam os números
Importância lá ganham os substantivos, adjetivos e os verbos.
E o lugar me soprou um arrepio
e era como um vento de vingança
o l u g a r se vingara de mim.
Logo eu, também comigo.
E cada poro do meu corpo
sentiu seu desdém, seu deboche.
Talvez, melhor era ter fingido
que quase nada aconteceu naquele lugar.
Mas o l u g a r é duro, insiste em me soprar:
. . .

á q u e l e v e n t o.

E só eu sei o que ele diz.

sábado, 4 de abril de 2009

O "conhecer" um baiano

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Nasci em São Paulo, passei a infância em Cianorte-PR, voltei no início da adolescência e, cá estou transbordando minha idêntidade caipira-cosmopolitana.
Tenho uma alma de sertanejo, tenho meu sotaque, tenho o cheiro de eucalipto que me invade as narinas, bastando apenas pensar Cianorte.

Me considero conterrânea daquele povo de sítios e casas em ruas de barro. Pensar meu interior é pensar no meu próprio interior.Uma alma distante de seu corpo.

O sul pra mim é casa, quintal- de i d e n t i d a d e.No entanto não me considero regionalista, tampouco denfensora de qualquer " fragmento de identidade" do Paraná. Gente de lá- leia-se PR e SC- não se apega a promover a própria terra. Gente de lá é simplesmente gente que é, sem levar em consideração o por quê do ser. E me basto em carinhos e apreços c o n t i d o s como todos de minha terra.

Tendo essa vivência em dois estados, achava que a maioria era assim...despretenciosamente sabido e exercido em sua origem. Eram apenas os nascidos ali ou nascidos lá.

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O Brasil se resumia sim, em 25 estados e um distrito federal. Oras, aprendi isso em geografia, tenho isso tatuado no corpo e, essa geopolítica era bastante homogênea desde sempre- quiçá com uma ou outra destoante.
A região norte, Roraima, Amapá,Amazonas, Pará,Tocantins,Acre( meu sonho de viagem) e Rondonia. Centroeste composto de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Sudeste com São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. No Sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Deixei pro final o Nordeste que tem como partes: Maranhão, Piauí,Ceará,Rio Grande do Norte,Alagoas, Paraíba, Sergipe e finalmente a Bahia.
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O "conhecer" um baiano muda a vida da gente toda, digo, o baiano com baianidade. Baiano que fale em nagô, que ilustre o pelourinho, que se vislumbre nos ditos de Jorge Amado, e que tenha legado africano.Pois bem...conheci uma baiana legítima e, brother é uma viagem.

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A baianinha

Falemos da baianinha. O inha é de pequena, como a maioria dos baianos. A média de altura fica entre 1,60 á 1,68, lá naquelas terras de obás e dendê. O nome da baiana é Ana ,e claro como todo baiano que adora aparecer, o nome é composto: Ana Lígia.
Ana Lígia é menina daquele tipo diferente, que se encontram em grandes capitais...digo diferente por que pra ela Adão não foi feito pra Eva e, se deus inventou coisa melhor que mulher guardou só pra ele. Ana Lígia faz publicidade e propaganda na PUC-SP, e joga futebol pela pontíifícia também. Pra baiana entregaram a camisa 10 do time, e corre por entre os bastidores que ela é boleira nata.Pra fim da descrição da personagem, vale lembrar que não existe ninguém que tenha os olhos tão amarelos como os dela. Amarelice essa, que faz nascer inveja em qualquer "olhos-azuis".
A baiana é uma regionalista nata. Não há como ouvi-lá balbuciando monossílabas sem se transportar pra Bahia;Ela fala em dialetos as vezes, e consegue abrir tanto as vogais que chêga a fazer espacate gramático.
Ana é porta-voz de sua terra. Nela se enxergam a dureza do nordestido e sua tenacidade. Gente dura daquela terra que jamais se curva diante de coisa grande, quiçá das modestas.A menina carrega em sim uma inteligência ininterpretável.Discorre de Amado á Nieztsche como quem lá , falaria de um jogo entre Bahia e Vitória. Dentro da cabeça dela efervem uma inteligência genética munida de conhecimento de mundo, aliada á vida acadêmica-nisso destoa da sua gente. Ela teve oportunidade de alimento e boas escolas, e como baiana legítima aproveitou.

Conversar com ela, é relembrar Caetano in "Não enche" : "o que eu herdei de minha gente eu nunca posso perder."E ela não perdeu.
A.L. uniu sua afrodescencência á sua baianidade. Complementou o feijão- com- arroz no seu acarajé, e caruru de Cosme e Damião. Assistiu aos Filhos de Gandhi cantando João Gilberto. Ela é toda uma mistura bonita, de terra sofrida que só fez brilhar.

Não há ser que se aproxime dela e não veja Bahia. E menino, não ame a Bahia.
A baianinha é pra mim, a promoção - leia- se no sentido de promover- mais legítima de qualquer marketing que se possa existir. A menina baiana tem todo aquele dom, que sabe o baiano de se fazer feliz, e fazer uma terra toda sorrir. Baianidade presa ao sotaque, ao amor á terra, ao jeito de retirante inconformado em abandonar a mãe nordestina.

O lugar dela é a Bahia , sua terra e seu povo.Todavia o mundo precisa dela, pra ser feliz de existir.





terça-feira, 31 de março de 2009

Desentendimento literário

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Vida, Vidinha

A solteirona e seu pé de begônia
a solteirona e seu gato cinzento.
a solteirona e seu bolo de amêndoas
a solteirona e sua renda de bilro
a solteirona e seu jornal de modas
a solteirona e seu livro de missa
a solteirona e seu armário fechado
a solteirona e sua janela
a solteirona e seu olhar vazio
a solteirona e seus bandós-grisalhos
a solteirona e seu bandolim
a solteirona e seu noivo-retrato
a solteirona e seu tempo infinito
a solteirona e seu travesseiro
ardente, molhado
de soluços.

Do Mestre - CDA in Boitempo

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Li isso logo que fiquei solteira ,e desta vez o Mestre não me salvou.
Me apunhalou- muito bem- pelas costas.
Maldito.

Não costumo me irritar com ele, mas a verdade doeu.
Dor escorrendo na alma, pra cara , retrato de muita e nenhuma projeção.

Resposta - humilde- e mal educada ao itabirano.:

Por uma vida menos ordinária

A esposa e seu pé de samambaia
a esposa e seu gato ciumento
a esposa e bife fritando
a esposa e sua roupa puída
a esposa e o livro a história do bebê
a esposa e seu guru de auto-ajuda
a esposa e seu armário transbordando fantasias
a esposa e sua janela
a esposa e seu olhar febril
a esposa e seus bandós- tingidos
a esposa e sua campainha
a esposa e seu noivo bem-passado
a esposa e seu tempo escasso
a esposa e seu marido
dormindo, roncando
babando sonhos no seu travesseiro.


Sorte nessa história mesmo, quem tem é o marido.

há!


P.S.: leitor, cá entre nós, prefiro a segunda...por mais que contrarie minhas convicções ideológicas e intelectuais.

Termino com meu Gauche:

" E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana."


ces't soir!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Velha infância

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Sinto tanta saudade da minha infância, da minha molequice.
As vezes me pego relembrando ideias que eu tinha lá pelos 5,6 anos de idade e dou muita risada.
Eu pensava em tudo com um jeito puro, despretencioso.
No pré tive um amiguinho chamado Marcelo. Lembro de dizer a ele : Marcelo, marmelo, martelo. Ele ria. Eu não achava possível que uma mãe desse um nome assim, tão estranho!Parecia martelo, era quase. Na minha cabeça era um absurdo.

Lembro de ficar pendurada parecendo um morcego em pés-de-manga durante tardes inteiras.De me esconder na copa da árvore , e jogar maguinhas verdes na cabeça de quem passasse embaixo. Era divertido, era engraçado. Uma vez fiz xixi de lá de cima, mas não foi em ninguém.

Desse tempo lúdico meu grande companheiro foi o Glaubinho. Fazíamos tudo juntos.Jogávamos vôlei, inventávamos partidos políticos, desenhávamos, brigávamos, éramos uma dupla pau-pra-toda-obra.Perfeita.
Glauber tinha ótima ideias e planos, eu tinha a inteligência que executava. Ele era prático, afoito. Eu pensava mais, mudava mais, nada tava muito bom.E ele se subordinava, as vezes.

Com ele aprendi tanta coisa. O que era amor, depois o que era amizade. Laços profundos que vem da alma.Transcedentais.

Sinto falta dele.Sinto falta da proteção que eu sempre senti na presença dele. Ele cuidava de mim, ia em casa só pra abrir minha goiabada, me seguia a pé enquanto eu ia de bicicleta.Meu companheiro, meu protetor, meu irmão mais velho.
Hoje, quando nos falamos ao telefone, sinto aquele paizão nele.Ele quer saber de tudo,eu também.Eu conto meus planos, ele conta os dele. E a gente se apóia ,ri e as vezes choramos muito.

Se Deus ouvir minhas preces vou nessa páscoa pra Cia. Vou comer o bolo de chocolate do Glau, tomar téra com ele, e dar risada dele dizendo "Oba", pra todo mundo que passa na rua.
Meu irmão, meu PAI, meu MELHOR AMIGO.

Meu exemplo de todas as coisas.

A guigui te ama muito,muito, muito

e só pra relembrar:

Eu quero minhas neguinhas! rs


quarta-feira, 4 de março de 2009

Taurinas

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Hoje aqui em casa recebemos a visita de uma tia-avó muito querida, Tia Carmem.

Tia Carmem completa 81 anos no mês de abril e veio fazer uma de suas visitas vespertinas, como é de costume.

Invariavelmente, quando ela vem, sempre traz algum agrado e hoje não foi diferente.Nos sentamos á mesa e comemos seu bolo de laranja, delicioso.Gosto de recebê-la aqui pois podemos ouvir suas histórias, algumas repetidas sem perceber- haja visto a idade-, mas sempre fidedignas às que ainda tenho em memória.

Logo quando ela me viu, sentada á mesa, disse que eu estava bonita e perguntou sobre "os namorados", respondi "ah tia, tô sozinha, larguei o último tem pouco tempo e tô feliz assim.Ela sorriu.

Passado alguns pedaços de bolo e copos de coca-cola, naquela nossa conversa sempre sobre seu passado, ela falou do seu grande amor.

Nos contou sobre o comportamento do ex-marido e sobre como aguentou á duras-penas seus distratos e traições , até que rompeu o matrimônio e conheceu Sr Lima , seu grande amor:


-O "verme" - falo assim por quê nem o nome dele digo mais- vivia com as putas e as vagabundas por aí, nunca se importou com meu amor enquanto eu sofria e o queria.Só fazia mais sangue em cima de minhas feridas.E eu, sofria calada aguentando tudo pelo amor que eu sentia.

Até que um belo dia eu disse á ele "Vamos bater um papo", eu e você , e ele meio que surpreso respondeu que sim.Pedi a ele que pegasse papel e caneta e anotasse algumas coisas.Logo assim que pegou eu disse :

-Anote o mês, o dia e o ano.Anote as horas também.

Ele o fez.

-Agora dobre o papel e guarde-o com você.

E ele surpreso, perguntou o por quê de tudo aquilo .

-A partir do dia de hoje - guarde esta data- tenho dito : Sua veste não encosta nunca mais em mim.

Disse a Tia que ele riu-se como que irônicamente e virou as costas.

Depois desse dia ela conta ter apagado o passado e se aberto á vida e a um grande amor,amor esse que apareceria logo depois.


Grande - Amor ou Sr Lima


Com Sr Lima ela passou os melhores ano da vida, e teve as mais inesquecíveis danças nos bailes dos anos 60.Lima tocava Clarinete e era Capitão da Cavalaria da PM/SP na época.
Ela e o Capitão - como ela mesma diz- vivem essa história de amor até hoje.Testemunhas são as fotos, cartas, ligações, flores e visitas. No entanto vivem em casas separadas por falta de aceitação de um dos meus primos.

Discorrida sua retórica, Tia Carmem ficou com um semblante nostálgico e a face - eu bem poderia dizer- tinha um viço daqueles que só apaixonados tem.

Eu fiquei quieta, diante de tantas emoções que me despertaram sua história de vida e de amor. Como este meu faro "curioso" não sossega nunca, perguntei-lhe:

-Tia, mas e o Tio Manuel ?

Ela respondeu que continuava com outras novas putas em algum lugar e que cansara de buscar seu perdão.Disse também que durante anos ele implorara - de se ajoelhar em lugares públicos- perdão e o casamento de volta. Ela, decidida, jamais aceitou.

Diante de toda aquela história eu buscava na minha cabeça um passado ainda pouco recente, de quase os mesmos acontecimentos, em devidas proporções de angústia e deslealdade.Pensei-me bem aqui por dentro, e senti por mim um acréscimo de afeto e estima.Percebi que apenas as grandes mulheres se arriscam fora do sofrimento e de relacionamentos dolorosos. Quanto á traição ,com muitas e várias putas, não me consta - até onde eu sei- ter ocorrido;Agora quanto á deslealdade e toda a sorte de sordidez que um homem pode cometer, dessas todas saboreei o gosto amargo.

Nunca considerei -como Tia Carmem- a infidelidade um mal dos piores.É o menor.Considero absolutamente a deslealdade o pior dos males. Por isso aceito qualquer comportamento por amor, exceto este.

Logo na despedida ela falou acerca de seu próximo aniversário que é em abril. Minha mãe sorriu - talvez achasse graça da esperança dela de mais uma comemoração- e contou a ela que eu era taurina também.


Graça ou desgraça-nunca se sabe-,são todas as chances que podemos nos dar pra sermos felizes.Me sinto uma vitoriosa por negar e renegar de todo o meu coração um homem que me esmagava sobrepondo outra f r e q u e n t e m e n t e no "meu" lugar.

Amo o meu signo, me identifico com cada aspecto.

Teimosa,determinada,sensual,inteligente e bela. Sim. Em gênero , número e grau.


Hoje descobri que as mulheres que dizem NÃO se amam.Verdadeiramente.
Descobri também que depois do NÃO , surge o "príncipe encantado" á cavalo (neste caso um Capitão da cavalaria ).


Esse post é dedicado a Taurina que brevemente completará seus 81 anos:

Dona Maria do Carmo Martinez, melhor dizendo ,Tia Carmem.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Primavera

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Para Ana Lígia
As flores esperam o ano todo pra nascer na primavera

A natureza sabida deixa que se passem centenas de dias

até que - não se sabe mágica ou milagre- floresçam os primeiros brotos.

As raízes suportam -fortes e duras- o frio do inverno, a secura do verão e a morte do outono

E aí quando mais desolada e mais descrente

surge o primeiro ramo, o primeiro broto de cores

que pincela a memória e apaga os danos e ilusões que outras estações trouxeram consigo.

Primavera é tempo para amar, para acreditar

Primavera dura pouco e dura suficiente .

Traz a vontade de nela morrer e

Eternizar.

domingo, 6 de abril de 2008

Pungência

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Eu não vou me pintar para o mundo
e tambem não quero que ele me pinte.
Assumo eu, as rédias do carrossel
e não me arrependo enquanto girar
Sairei dele cambaleante.
Como aquela que há pouco pariu ____(vazio ,agudo,chôro e quarentena)
ainda com saliva neutra
delicada e sensivel á qualquer mudança sobre a lingua
sob a minha lingua.
Roubarei a tela
o pincel
e a aquarela.
Será o trinômio do nirvana:
A aceitação ,o caminho e a raça humana
então eu pertencerei a todo homem.
Serei o Alfa .
Serei Eva.
Multiplicarei nesse quando
todo o meu misticismo,
meu fetichismo
e meu lado bom , por que não (?).
Vou gotejar sobre as cabeças abandonadas
Idéias , sopros e CORAGEM.
Estarei nem pra cá e muito menos pra lá.
É a linha estreita
do MEIO
da circunferência
de toda paixão.
-EU NÃO ASSUMO
Onde eu não existo e não sorrio
Onde eu não moro.