sábado, 29 de agosto de 2009

Caminhada

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Fumo desde os 17 anos e este hábito terrível fez com que eu criasse espaços de tempo para fumar em qualquer lugar.
Trabalho num shopping e ainda me resta uma área para fumar. Vou sempre ao mesmo lugar. Lá penso sobre a minha vida, meu presente, passado e futuro. À penas, penso.Construo o mosaico do existir com um cigarro entre os dedos,uma fumaça sobre a cabeça.E hoje não foi diferente, saí pra fumar.
Acendí meu cigarro, dei o primeiro trago e comecei a observar o fluxo de pessoas que vão e vem à minha frente, numa das entradas do shopping.
Um homem passa falando ao celular apressadamente, na mesma mão que o segura tem um chaveiro entrelaçado nos dedos. Um homem que corre à vida num compasso orgulhoso e prepotente. Logo atrás um menino de no máximo dois anos. Ele corre em seus pequenos passos para alcançá-lo. O menino usa sandálias amarelas, bermuda preta e uma camiseta com os dizeres : “nasci pra vencer''.
O homem a passos largos não se importa em olhar pra trás. O menino, obstinado, não se importa em buscá-lo numa corrida impossível para suas pequeninas pernas.
Vejo este homem percorrer mais ou menos vinte metros até que meus olhos não o alcancem mais. O menino é a última figura que vejo fazendo a curva , e desaparecem. Do meu olhar. Me questiono...que tenacidade é esse que move uma criança a perseguir o pai durante incansáveis minutos, sem sequer receber um olhar, um gesto para que continuasse? Que pai é esse que não olha pra trás e se compadece do esforço sobrenatural que seu bebê fazia para alcançá-lo?
Quantas vezes já corri atras de alguém que não me esperou ?Que não se compadeceu em perceber que a minha capacidade só chegava aos passos curtos? Quantas vezes já vesti a camiseta com a frase “nasci pra vencer'' em batalhas perdidas desde o primeiro passo?
E ainda mais, quando foi que tive essa determinação de ir em frente diante do desprezo e do abandono? E quantas vezes não diminuí o ritmo pra – numa atitude apaixonada e generosa- oferecer ajuda a quem se arrastava poucos metros atrás?


quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Tudo Novo de Novo

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Uma expectativa nascida de dois pares de olhos. Projetadas num só. Eyes with lasers. É, foi mais ou menos assim.
Pois bem, estacionei em frente ao seu prédio e esperei você descer. Esse foi o dia que fizemos um mês ficando -pra mim-, e 'ficando' pra você. Do alto dos seus 1,70- pouca coisa maior que eu- vi um homem de paletó preto, calça jeans e tênis cinza. Nas mãos dele, um buquê de flores.
Pensei : Ineditismo e Deus.Caí,só que nos teus braços. Uns vinte olhares e meios sorrisos deram as mãos aos muitos selinhos e saímos pra nossa noite pagã. Como todas as outras.Onde os fracos não tem vez. Sorrimos sempre dessa piadinha nascida num motel barato ao estilo estadunidense.Que não se compreenda tudo. Fomos jantar. Eu, ele e as flores no banco de trás. De certo que elas deveriam estar fazendo comentários sobre nós. Isso não é devaneio.
Sempre me sinto deslocada com muita chiqueza e dessa vez não foi diferente. Um garçom ao pé da mesa, mais propriamente enchendo o meu prato todas as vezes que ele esvaziava. O garçom queria namorar com a gente. Asseyes vouz, garçon.Brincadeira. Na verdade era um escravo pago pra trabalhar de madrugada nesses empregos desleais. Provavelmente tinha raiva de estar ali. A mulher o esperava em casa e servir a um jovem casal deveria ser pedante.
Não me senti muito a vontade naquele lugar, embora a comida fosse ótima. O problema era só o serviço demasiado prestativo do garçon. Vou me ater a nós. Nós.Agora nascemos no plural.
No carro um abraço. No carro umas palavrinhas tímidas, que juntas, formaram isso que chamamos de frase e, nesse caso, pedido de namoro (ou intimação) : A partir de agora você é minha namorada.
Minha cabeça voou nas asas de um pássaro perdido, depois voltou, cambaleante : Eu quero, achei que você não fosse pedir! O desespero eufórico era , de fato, puro desespero. Eu sei do quê. Por quê pensou que eu não fosse pedir?, disse ele.Eu respondi algo muito inseguro e ele replicou: Pra mim a gente já tava namorando a muito tempo. Ufaaaaaaa. Ele quer isso de verdade, eu percebí. Então vamos.
Sendo ele o filho não nascido, mas escarrado o Chico Buarque – coisa que ele não suporta-, falou como o tal, dias à frente sobre Construção.Mas não era aquela letra famosa. O discurso soava como comida caseira, sabe? Parece ridículo dizer isso, mas era como se eu sentisse uma segurança duradoura, daquelas que só existem em almoços de domingo com a mesa cheia. ''Eu quero construir sonhos e buscar obejtivos em comum . Eu sei que com você vale a pena.'' Pôrra, que mulher não sonha com isso? Há quanto tempo eu espero por isso? Bom, é muito provável que eu esteja no caminho certo. Caso contrário, é mais um dos atraentes precipícios que beirei na vida.
O que eu sei de tudo isso é que tem muito a ver com o que eu sempre quis.O nós é muito presente nele e isso me cativa. O cuidado me cativa, a calma também. Conto os dias pra vê-lo novamente, numa espécie de '' fecundação de amor'' e que em breve, me engravidará.


Ele me encontrou/Eu tava por aí/Num estado emocional tão ruim/Me sentindo muito mal./Perdido, sozinho/Errando de bar em bar/Procurando não achar/Ele demonstrou tanto prazer/De estar em minha companhia/Que eu experimentei/Uma sensação/Que até então não conhecia/De se querer bem/De se querer quem se tem/E Ele me faz tão bem!/Que eu também quero/Fazer isto por ele...

Pra você, barba

Luzinha!

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Se você leitor já teve contato com 'Brida' de Paulo Coelho, continue a leitura. Caso contrário, não facilitarei o texto pra que você entenda minhas subejtividades.
Sabe aquela luzinha que brilha ao lado superior direito da cabeça de uma pessoa? Então é sobre ela que eu vou falar.
Li 'Brida' aos 8,9 anos de idade. Era um livro que pertencia à tia Ane, hoje falecida. A capa era interessante e lá no interior do Paraná o maior nome em romance que se conhecia era o de Coelho. Me interessei, peguei emprestado da tia e li nas minhas férias que passava aqui em sampa. Por coincidência no mesmo quintal onde hoje moro. Voltas que a vida dá, vai entender.
Brida é uma bruxa wicca e aprende alguns segredos da vida e do amor naquela filosofia ritualística e simbológica que pratica.Ela sabe que a sua grande busca significa encontrar o portador dessa tal luzinha e vai atraz dele. Ela o identifica. Ela se alegra. Ela se satisfaz. Satisfação essa de todos aqueles que encontram o que procuram , e percebem : a busca acabou.
No entato no caminho de Brida não existem possibilidades para que ela siga essa luz. E descobrir isso gera muito sofrimento e a coloca diante de decisões altruístas, logo muito difíceis.
Num dado momento o dono da luz entrega Brida à vida. E ela vai.
A garota descobre que o grande prazer não era 'possuir', nem tampouco seguir a luz, mas sim, tê-la encontrado.
A jovem bruxa parte feliz e pensa consigo :- Puxa, como tenho sorte!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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Eu queria ser pequena
Caber nos teus braços
Abrigada em teu seio
Suspirar

Queria um mundo apresentado num domingo de piquenique
Uma bronca, ou até uma surra
Queria tudo aquilo que me fizesse frágil, metade

Metade sua, outra do pai
Metade vida, outra sonho

Queria um sorriso tristonho
minha meninice traduzida
desvendada
num mistério de entender o porquê das coisas
e sem entender
sem saber
sem questionar
esse porquês

Meus porquês não cessam
Minha velhice tombada n'alma
me cobra a gentileza
e a leveza
que deveria ser

Obrigado mãe, obrigado pai
Um dia eu fui menina
Um dia eu fui tão menos
No mais que eu julgo não querer

e esquecer.




quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Dimanche Toujours

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Numa rua de nome composto
Metade religiosa
Metade utensílio doméstico
Um frio que não assustava, uma lua que brilhava
Nossos cigarros, nossos goles
Tudo nascia num sorriso e terminava num olhar

Timidez, medo, insegurança
Será? Será?
Mas já ? Mas já ?
Desejo de fuga
de fugir de você
me esconder em você
pra não te perder

Um filme sobre um contador de histórias
cocovants, cigarretes, Febem, filhos, Amor, M I L A G R E S
umas lágrimas minhas, um abraço de consolo seu
Seus m&m's, minha pipoca salgada
Nosso refrigerante

A despedida
o possível táxi
seu cuidado absurdo que me constrange
os seus beijos
um beijo meu mandado a distancia

uma semana esmagadora
lenta, irreversível
até que a vida presenteie a gente de novo
e comemoraremos
o que eu ganhei
e que você ainda não sabe

Legítimo.
Assim como foi pra você
foi pra mim.
O cheiro fica e me visita até que você reapareça.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Aquário

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dôce e leve brisa
calma
agita
enfeitiça

vento, sensibilidade, calor
nova idade

brincamos ainda
superfície cristalina

inda menina, menina

corre comigo
desvenda
abraça

assim, só,
isso.
aquilo que é
translúcido
e transparente:
Você.
Aquário.


Num canto, num gesto ,
nos olhos
aonde lá, distante,
nasce um mistério
eu. Sereia.


Paredes delicadas de vidro abrigam um mar tempestuoso e forte.

Numa mistura de calma e cólera.
Como se todas as balanças e seus pesos se equilibrassem.

Em aquário nasceu
todo aquele mar
que a sereia precisava pra amar.





terça-feira, 4 de agosto de 2009

Num acidente de sexta-feira...

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O poeta se conta em suas medíocres palavras ensaiadas. Não há nada de novo em sua poesia. Apenas cacos. Retratos diminutos duma paisagem sobreposta à própria vida.
O poeta volta a sorrir e abandona o próprio verso. Quantas palavras já escritas sem amor, que não possuem mais a circunstância da própria existência? Muitas.
O poeta saiu desapercebido dos acidentes que a vida tráz pra salvá-lo, não é assim que você o ensinou ?
O poeta se despede de si numa sexta-feira. O poeta encontra uns olhos tão iguais numa noite. O poeta decide, sua hora chegou.
A poesia nos ensina tudo sobre sentimentos. Assim o poeta aprendeu. No entanto, a efemeridade da letras e suas significâncias se perdem numa noite. Num sábado depois da sexta.
O mundo reviu o sorriso do poeta. Dizem que o poeta foi abençoado. Que assim seja. Que o sofrer seja minimamente impresso em suas letras de novo.
E o poeta ouve Nina Simone, ele lançou sobre você um encanto. O mesmo encanto que Nina lançou na vida dele.

Agora você é dele.

I put a spell on you because you're mine.