terça-feira, 31 de março de 2009

Desentendimento literário

Vida, Vidinha

A solteirona e seu pé de begônia
a solteirona e seu gato cinzento.
a solteirona e seu bolo de amêndoas
a solteirona e sua renda de bilro
a solteirona e seu jornal de modas
a solteirona e seu livro de missa
a solteirona e seu armário fechado
a solteirona e sua janela
a solteirona e seu olhar vazio
a solteirona e seus bandós-grisalhos
a solteirona e seu bandolim
a solteirona e seu noivo-retrato
a solteirona e seu tempo infinito
a solteirona e seu travesseiro
ardente, molhado
de soluços.

Do Mestre - CDA in Boitempo

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Li isso logo que fiquei solteira ,e desta vez o Mestre não me salvou.
Me apunhalou- muito bem- pelas costas.
Maldito.

Não costumo me irritar com ele, mas a verdade doeu.
Dor escorrendo na alma, pra cara , retrato de muita e nenhuma projeção.

Resposta - humilde- e mal educada ao itabirano.:

Por uma vida menos ordinária

A esposa e seu pé de samambaia
a esposa e seu gato ciumento
a esposa e bife fritando
a esposa e sua roupa puída
a esposa e o livro a história do bebê
a esposa e seu guru de auto-ajuda
a esposa e seu armário transbordando fantasias
a esposa e sua janela
a esposa e seu olhar febril
a esposa e seus bandós- tingidos
a esposa e sua campainha
a esposa e seu noivo bem-passado
a esposa e seu tempo escasso
a esposa e seu marido
dormindo, roncando
babando sonhos no seu travesseiro.


Sorte nessa história mesmo, quem tem é o marido.

há!


P.S.: leitor, cá entre nós, prefiro a segunda...por mais que contrarie minhas convicções ideológicas e intelectuais.

Termino com meu Gauche:

" E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana."


ces't soir!

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