terça-feira, 26 de maio de 2009

Ele e outros homens - Zé

Contando histórias eu conto minha vida, meus desejos, meus pequenos ratos que corroem a alma.


Marina é o nome da mulher que eu mais amei. E como amei Marina. Amava tanto e era só olhar pra ela que o mundo se acendia como em dia primeiro do ano. Fogos, estouros e faíscas. Um amor de bichos iguais. Um amor de bichos gêmeos.
Com Marina não tinha tempo ruim, cama ruim, sorriso ruim, festa ruim. Ela se alegrava por mim, eu me alegrava por ela.Bastava.

Penso em Marina como quem pensa em sonhos. Sonhos são aquilo que as vezes amaríamos viver, noutras odiamos tanto que o melhor é esquecer.
A menina me fazia presente em tudo. Me ligava um botão de vida que nem eu sei aonde é que fica. A menina me ensinou o valor do companheirismo e nisso nunca ninguém ganhou dela. Era minha companheira. Em tudo.

Hoje as bandas são outras. Marina voltou pra minas, e a cachaça não muda o sabor da vida. Não mudou nunca- apenas era ilusão de tempo, velhice, teor-, a cachaça é apenas necessária.

Necessário é acordar e escrever sobre feridas. Sobre como tenho feridas que são tão minhas e não dependem de ninguém. Nem de Marina, nem da cachaça.

E mesmo que a pinga não me ficasse como arrimo. E mesmo que Marina se casasse com outro homem.
Mesmo assim eu ainda teria um cenho franzido e uma vida pouco viviva. Pouco aproveitada.
O sabor com o qual eu convivo hoje é o mesmo que tem as velhas raízes no deserto.

Pó, secura, aridez.... talhos que ultrapassaram o limite do sangue. O limite da vida.

E essa procura que em mim se instalou não tem outro nome senão o meu.
A doçura com a qual Marina me olhava, morará em mim enquanto ainda for possível a condição do ser. Do estar.
E a cachaça desce doída, como desce macia. Depende do dia, do diabo.

Deus já não se ocupa dos perdidos.

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