sexta-feira, 20 de março de 2009

Acerca dos amores reprimidos


Outra madrugada, por volta das 3:30 meu celular tocou. Acordei um pouco assustada, e quando atendi era ele.
Ele estava com uma voz suave, carinhosa, de quem talvez tivesse bebido um pouco mais.
-Oi, eu só liguei pra dizer que eu te amo e que estou com saudades.
Eu meio acordada, meio dormindo disse que também. Eu iria dizer o que? Melhor era não criar problemas áquela hora da madrugada.
Terminou me mandando beijos e perguntando se iríamos nos ver no final de semana, no aniversário de uma amiga em comum.Eu disse que sim.

Pensei bastante no que ele me disse durante o dia seguinte que correu devagar e amedrontador.
Estaria ele voltando? Eu conseguiria me vencer e amá-lo novamente? E por aí minha cabeça tecia longas redes de problemas e soluções, e de uma possível reviravolta no caso.
Chegada á noite, encontrei um cara tímido e desconcertado.Bem diferente daquele apaixonado ao telefone de madrugada. Eu não sabia muito o que dizer, melhor era fingir que não lembrava, e tentei, pelo menos até quando o assunto "nós"( eu e ele ) reapareceu .Novamente vindo dele.
Estavámos com um casal de amigos e a tônica da conversa era nada mais, nada menos, que sexo. Pra ajudar eu comecei a defender meus pontos de vista, e transparecendo fortemente minhas opiniões.

Num dado momento da discussão, surge nele um homem magoado e ferido;um retrato frágil e machucado que eu jamais vira antes.E começa o ataque.
Ele diz que eu sou o tipo de mulher que não se importa com seus sentimentos, que nunca quis dialogar, que jamais quis saber de outra coisa que não fosse sexo-com ele.
Lá pelas tantas, comecei a me sentir culpada.Ora, não é bem assim. Sim, sim - eu digo- o sexo é primícia, é mister, mas eu amava você. Amava tanto, que talvez, não soubesse exteriorizar de outro modo, outra forma.Nunca foi apenas sexo.Foi sempre confluência. Confluência esta ,de idéias, sonhos, desejos, e aventuras.
E o ataque continuava.Eu lá pelas tantas, desisti de me defender e comecei a "aceitar" a doença- pra ele doença- que tinha.Ou tenho !?
Pedi desculpas.Perdão. Revoguei minha lei orgulhosa de não abaixar a cabeça, de não ficar contrita diante da mágoa dele.
Ele me abraçou.Eu senti uma vontade imensa de chorar.Talvez fosse pura injustiça comigo, talvez com ele. Eu não sei até agora quem ficou pior no resultado final.

Mas a grande questão é que me senti como aqueles que não querem saber de nada, além de sua própria satisfação.E eu sou assim.
Sempre, sempre, preconizei o sexo.Não associo ele com amor, com afeto.Ele é separado de tudo. É o mesmo desejo substancial de comer e dormir. Talvez o mais forte dos três na minha personalidade.
Aquela noite prometia tanta coisa e não era com ele. Mas a carga foi tanta que eu me sentei num canto e lá fiquei até ir embora.

O mais doloroso nessa história inteira foi perceber que existe um amor reprimido.Um desejo propulsor e convulsivo. E todas as vezes que ele tem a oportunidade de me matar, ele o faz. No alto da minha sensibilidade- leia-se ironicamente o adjetivo- eu não enxergo e sou pura e simplesmente o egoísmo em pessoa.
Sou uma mulher-bicho. Daquelas que acorda de madrugada o par e o consome, e foda-se o trabalho do dia seguinte, o jogo, o sono.

O amor dele é sincero.É puro, leve.Como foram outros.Já em mim, não há sequer afeto, é desejo de posse -leia-se sexual-,desejo doente da trepada perfeita.
O amor quando toca em mim me enobrece, repele a volúpia durante um tempo.Mas pra sempre é largo demais pr'um desejo tão presente.

Termino desejando que as mágoas dele e dos outros cessem. Que não haja mais esses amores reprimidos sendo revelados em tanta mágoa e que realmente eu pertença ao par par.
E que eu me cure, porque não !?


P.s.: Recomendo a leitura do conto "O ovo e a galinha"- Clarice Lispector.

Me abriu um mundo na cabeça.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oww minha querida... não se culpe tanto...
talvez não haja nenhuma doença...
relacionamentos as vezes não dão certo... n precisa haver culpados... simplesmente acontece ou não...
há ainda quem veja essa sua doença como qualidade. Pense nisso!